Milano – San Remo, a 1a Clássica Monumento do Ano

Depois de aperitivos da maior qualidade (Het Nieuwsblad, Paris-Nice e Tirreno-Adriático), neste sábado teremos a primeira Clássica Monumento da temporada. As melhores equipes e os melhores ciclistas estarão!! Olho vivo na RAI (para quem TV a cabo) ou na internet.

A Milano-San Remo é também conhecida como La Classicissima ou La Primavera (porque é sempre corrida na virada do inverno para a primavera européia). Com seus 298 km de extensão é disputada desde 1907 e neste ano teremos a 102a edição (as guerras a pararam algumas vezes…).

Esta é uma prova emblemática na minha opinião. Apesar de ser a mais longa das Clássicas Monumentais, é também a de percurso mais fácil e a mais simples de se analisar. Por outro lado é a mais lotérica de todas e a mais difícil de se prever o perfil do vencedor: pode ser um sprinter puro (como Cippolini ou Petacchi), pode ser um routier-sprinter (expressão francesa para sprinters de terreno duro, como Saronni, Jalabert) ou até um passista rolador (como Cancellara). Só escaladores puros têm pouca presença nesta grande Clássica (como Chiappuchi).

Mas vamos ao percurso, que explica a minha visão acima descrita:

  • Fase 1: partida do centro de Milão (Milano em italiano) até o Passo Turchino (Km 142). Esta é a fase onde ciclistas sem chance real de vitória partem para fugas e obtém algumas horas de ‘air view’, i.e. aparecem na TV e destacam seus patrocinadores. O Turchino teve seus dias de glória nos tempos de Coppi e Bartali, que o usavam para fugir…e não eram mais alcançados. No ciclismo moderno, com equipes mais estruturadas e homogêneas, elas vão e caçam os fugitivos O último vencedor da prova que escapou no Turchino foi Claudio ‘El Diavolo’ Chiappucchi, em 1991.
  • Fase 2: Turchino (142 km) até a Cipressa (275 km). Esta é a fase em que o pelotão vai serpenteando a costa da Liguria à caça dos fugitivos do Turchino. Neste trecho se encontram duas subidas famosas, mas que não vêm sendo decisivas há anos (Le Manie e o Capo Berta), mas que sempre geram ataques perigosos.
  • Fase 3: Cipressa (275 km) até o Poggio (291 km). Aqui a prova entra na sua fase decisiva. A Cipressa (com 5,7 km de extensão e 4.1% de inclinação média ) sempre gera ataques perigosos, tanto na subida como na descida. E dada a proximidade do Poggio e do final da corrida a busca por posições na ponta se acirra, assim como fugas oportunista no terreno plano entre as duas subidas.
  • Fase 4: Poggio – subida e descida. Com seus 3.7km de extensão é o climax da prova. Ataques sucessivos num terreno feito à perfeição para ciclistas fortes e ágeis – não é para escalador puro, porque os ataques são muito explosivos. E a descida é um capítulo à parte, tamanho o número de curvas fechadas e a inclinação das mesmas.
  • Fase 5: Via Roma. Quem não conseguir escapar na descida do Poggio tem uma última chance de vitória nos pouco mais de 2 km de terreno totalmente plano da lendária Via Roma. É comum também que fugitivos do Poggio sejam alcançados já dentro de San Remo. Dureza…

Como se vence em San Remo:

1. A la Eddy Merckx, i.e. de todos os jeitos, fugindo de longe, na subida do Poggio, na descida do Poggio, no sprint…

2. No sprint, como vem fazendo desde 1997 Erik Zabel (agora aposentado), Freire  (Rabobank), Cavendish, Petacchi, Cippolini…

3. Escapadas oportunistas após o Poggio, com fizeram Pozzato, Tchmil, Cancellara…

4. No Poggio, como Jalabert, Fondriest, Bugno…

5. Bem antes do Poggio….quase impossível hoje em dia…como Chiappuchi, Coppi, Bartali

Eu e a Milano – San Remo – uma vez, numa viagem a trabalho, aluguei um carro e realizei meio-sonho: dirigi pelo trajeto da prova. Eu disse meio-sonho, porque sonho integral seria fazê-lo pedalando, mas… Foi num domingo a tarde e me impressionou o número enorme de ciclistas, de todas as idades, que pedalavam pelas estradas. Subi a Cipressa e o Poggio. Uma emoção só…preciso achar as fotos, escanear e publicar aqui…

Meus favoritos para amanhã:

  1. Equipe Garmin – Cervelo: tem o sprinter mais em forma do momento (Tyler Farrar), outro super sprinter que já foi 2o em San Remo (Haussler) e um super routier-sprinter e Campeão Mundial (Thor Hushvold). O risco é brigarem entre eles…
  2. Equipe Omega Pharma – Lotto: tem o melhor ciclista do mundo para circuitos ondulados e o Poggio pode ser perfeito para ele (P.Gilbert) e um super sprinter louco para se vingar de Cavendish (Andre Greipel).
  3. HTC – Highroad: o melhor sprinter do mundo nos últimos anos e vencedor aqui em 2008, Mark Cavendish, não parece estar em forma, mas seus colegas Renshaw e especialmente Goss estão. Só não sabemos se estão prontos para tal distância.
  4. Leopard: Fabian Cancellara é favorito de todas as provas de 1 dia que participa, mas para vencer em San Remo ele precisa atacar no início da Via Roma e resistir a perseguição das equipes dos sprinter. Para tal, ele precisa estar numa forma sem igual…e acho que não está!
  5. Rabobank: foco total no tricampeão Oscar Freire. A equipe está em ótima forma e poderá deixá-lo em ótima posição para finalizar com tranquilidade.
  6. Liquigas – Cannondale: com a dupla Nibali (para ataque no Poggio, se estiver suficientemente explosivo) e Sagan (pode vencer no sprint se o pelotão vier quebrado) é uma equipe forte.
  7. Não favoritos!! Não acredito em Boonen (não o vejo tão rápido ou explosivo), Pozzato (pipoqueiro…Mario Cippolini também acha!), Ballan (acabou depois do Mundial…)

Ansiedade a mil!!! Abraços e boa prova! F.

About Fernando Blanco

Apaixonado por ciclismo há mais de 30 anos, começou a pedalar em 1977 em Santos, tendo corrido para valer até os 20 anos de idade, quando coisas 'banais' como faculdade, carreira executiva, casamentos e filhos atrapalharam um pouco...agora, como Senior B, está treinando forte e pretende compensar o tempo perdido. Como ciclista foi um bom sprinter, chegando à pré-convocação da Seleção Brasileiros de Juniores em 1979. Se a carreira como ciclista não foi grande coisa, a coleção de revistas locais e internacionais (mais de 1.000) e de videos/DVDs (mais de 100) proveram bastante cultura sobre o ciclismo profissional. Provas internacionais acompanhadas ao vivo: Mundial de Estrada ('07), Mundial de Pista ('89), Tour de France ('97 e '02), Liège-Bastogne-Liège e Flèche Wallone (ambas em '92), Paris-Nice ('97), Ronde van Belgie (´89).
This entry was posted in Corridas - Internacional and tagged . Bookmark the permalink.

5 Responses to Milano – San Remo, a 1a Clássica Monumento do Ano

  1. Juca says:

    Vou chutar o Freire!

    • São tantos favoritos…O Freire anda meio quieto, ganhou uma e perdeu outra (para o Murilo) na Andalucia, mas ele é assim mesmo. E com a idade deve estar ainda mais cuidadoso, pois a recuperação é mais difícil…
      Estou entre Omega Pharma e Garmin…elas têm caras bons demais e em forma. Como sou “belguista” militante vou de Gilbert. Ataque com 2 km de Poggio, outros 2 juntam-se a ele, despencam Poggio abaixo, revezam e dá o belga no sprint. Vale mais uma cerveja,? Já estou devendo uma!

  2. Eduardo says:

    Se é p/ chutar, vamos chutar: Kolobnev! Seria a 1ª vitória russa na história da San Remo.

  3. Juca says:

    Eduardo falou um cara perigoso… Kolobnev!

Leave a reply to Eduardo Cancel reply