Amstel Gold ‘Raas’

Amigos,

O festival de Clássicos da Primavera entra na sua segunda fase. Após as provas específicas para os ‘classicomanos’ (M-SR, Ronde, G-W, Roubaix), as que seguem também são frequentemente vencidas por ciclistas vencedores / favoritos dos Grand Tours.

Estou falando da holandesa Amstel Gold Race e das belgas Flèche Wallone e Liège-Bastogne-Liège. Normalmente chamadas – até por mim – como Clássicas das Ardenas (ou Ardennes), existe uma imprecisão geográfica aqui, pois apesar de levemente montanhosa, a Amstel é corrida na região do Limburg (que também tem um pedaço na Bélgica). Mas Limburg é um lugar e Ardennes é outro.

A Holanda é um país (quase) totalmente plano, com quase metade de sua pequena região estando abaixo do nível do mar. O povo holandês é excepcional, tendo conquistado muita terra do mar, através de complexa e eficiente tecnologia.

No campo militar e comercial não foi diferente: sem terra e população  suficientes, foram tremendos navegadores nos anos 1600, partiram pelo mundo e, com muita sutileza, invadiram países como o Brasil, Indonésia, New York, Antilhas, etc., sempre mantendo relações cordiais com os povos invadidos. Eles queriam mesmo era ganhar dinheiro e não exercer domínio e poder, como faziam ingleses, espanhóis e franceses. No Brasil, por exemplo, Maurício de Nassau é até hoje muito popular em Pernambuco.

E, curiosamente, apesar de seu minúsculo território, o porto de Roterdam é simplesmente o maior do mundo. Por alí entra e sai uma porção enorme das mercadorias importadas e exportadas por todos os países da Europa. Espertos estes batavos, não?

Amstel Gold Race

A Clássica mais jovem do calendário – nasceu em 1966 – é promovida pela marca de cerveja Amstel Bier, que há tempos pertence a sua antiga arqui-rival: a gigante Heinneken. A disputa se dá na única parte da Holanda onde há subidas, com chegada em Valkenburg, na região da histórica cidade de Maastricht.

Com respeitáveis 260,4 km, a Amstel Gold Race tem 32 escaladas, mas a subida do Cauberg é a decisiva. Os ciclistas o enfrentam duas vezes: no km 184 e na chegada. O Cauberg é uma rua que fica no centro da pequena cidade de Valkenburg (palco de Campeonatos Mundiais e etapas do Tour de France). Para os holandeses, o Cauberg é uma espécie de L’Alpe d’Huez, Poggio de San Remo ou Muur van Geraardsbergen, dado que todo ciclista holandês vai lá peregrinar, treinar…e beber uma cerveja. Dizem que é a única subida do mundo que cheira a cerveja, tamanho o número de bares que têm ao longo do trajeto.

Escalar ou parar para uma bier: thats the question no Cauberg

O belga Eric van Lancker (vencedor do Amstel em 89 e da LBL em 90) diz: “O vencedor aqui precisa ter as características do típico vencedor em Liège, mas com algumas virtudes do corredor dos Flandres. As subidas são longas, ainda que não tão longas como nas Ardennes e nem tão curtas e explosivas como no Ronde. Por outro lado, as estradas são estreitas e cheias de curvas como nos Flandres.”

Grandes vencedores

Os belgas dominaram no terreno dos rivais holandeses nos anos 70, com vitórias de Merckx, Maertens, Planckaert e outros. Outro grande vencedor foi Bernard Hinault, em 81, com um sensacional sprint de sprinter em cima de De Vlaeminck, De Wolf e Raas.

Do lado batavo, quase todo grande ciclista da terra dos tamancos ‘clogs’ também venceu a Clássica deles: Zoetemelk, Knetmann, Hanegraaf, Nijdam, Maasen, Rooks, Van der Poel, Boogerd e Dekker.

O grande nome  holandês que nunca venceu o Amstel é Hennie Kuiper, mas  ele venceu o Ronde, Roubaix, Lombardia e San Remo, além dos Jogos Olímpicos de 72 e o Mundial de 75 – não tem do que se queixar, né?

Tempos recentes: Riis, Musseuw, Bartoli, Zabel, F. Schleck, Cunego, Rebellin, Di Luca, Vinokourov, entre outros, formam o panteão de grandes vencedores desta grande corrida de bicicletas.

Jan Raas…Amstel Gold Raas – falamos de grandes vencedores do Amstel, mas ninguém se aproxima deste grande ciclista de Clássicas. O holandês Raas venceu a prova nada mais nada menos do que 5 vezes! E de todos os jeitos: no sprint de pelotão, em grupo pequeno, destacado sozinho…ôpa, ele não venceu com a chegada no alto do Cauberg, porque naquela época era diferente. E ainda venceu o Mundial de 79, corrido em Valkenburg, escalando o Cauberg. Não é à toa que é chamado de Rei do Cauberg.

Raas brilhou demais no Amstel, mas brilhou muito em outras grandes corridas também: que tal 2 Tour de Flandres, 1 Paris-Roubaix, 1 Milano-San Remo, 2 Paris-Tours, 1 Paris-Bruxelas, 1 Het Volk, 1 G.P. E3, 10 Etapas do Tour de France (vestiu os 3 Maillots ao longo da carreira), 3 títulos de Campeão Holandês, além do já citado Mundial de 79. Uma fera!

A Holanda delira: Raas vestido de Arc-en-ciel vence o Amstel 1980

Favoritos – Gilbert, Gilbert e Gilbert para o bicampeonato. Se o Wallon da Omega Pharma-Lotto estiver segurando a forma para a sua prova-alvo da temporada, a Liège-Bastogne-Liège, o Leopard Frank Schleck é para mim o segundo favorito. O luxemburguês está em grande forma. Mas Cunego é sempre uma boa aposta, assim como Vinokourov e o canadense-com-nome-de-viking Reyder Heysdal. Um favorito que não correrá por conta de uma queda é Cadel Evans, que venceu a Flèche Wallone ano passado.

‘Desfavorito’ do Dia – Fabian Cancellara!! O suiço decidiu correr. Para mim isso é desespero dado que ‘bateu na trave’ em todas as Clássicas do ano, mas se ele vencer eu compro um uniforme da Leopard na 2af! Segundo Leo van Vliet, grande ciclista holandês do passado, atual organizador do Amstel Gold Race e blogueiro da corrida, o suiço não tem chance!

Olhos grudados na tela do computador na manhã deste domingo…após um treininho básico!

Abs, F.

About Fernando Blanco

Apaixonado por ciclismo há mais de 30 anos, começou a pedalar em 1977 em Santos, tendo corrido para valer até os 20 anos de idade, quando coisas 'banais' como faculdade, carreira executiva, casamentos e filhos atrapalharam um pouco...agora, como Senior B, está treinando forte e pretende compensar o tempo perdido. Como ciclista foi um bom sprinter, chegando à pré-convocação da Seleção Brasileiros de Juniores em 1979. Se a carreira como ciclista não foi grande coisa, a coleção de revistas locais e internacionais (mais de 1.000) e de videos/DVDs (mais de 100) proveram bastante cultura sobre o ciclismo profissional. Provas internacionais acompanhadas ao vivo: Mundial de Estrada ('07), Mundial de Pista ('89), Tour de France ('97 e '02), Liège-Bastogne-Liège e Flèche Wallone (ambas em '92), Paris-Nice ('97), Ronde van Belgie (´89).
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2 Responses to Amstel Gold ‘Raas’

  1. Rogério Yokoyama-Palmas/TO says:

    Grande post !

  2. Juca says:

    vai prometendo…. creio que vc tem grandes chances de tirar o escorpião do bolso!

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