Tour de Suisse, a última chance de “afinar” as pernas para o Tour de France

Caros,

Neste sábado acontecerá a largada do Tour de Suisse, que é a segunda grande prova preparatória para o Tour de France. Como já escrevi antes, TODOS os candidatos à vitória na Grand Boucle correm aqui ou no Dauphiné – e isso desde os tempos em que bicicletas eram como esta aqui embaixo!

Serão 9 etapas, totalizando…e eu não sei quantos quilometros os ciclistas correrão e cansei de procurar. Deve ser ao redor de 1.200, como sempre, mas fiquei chocado com a dificuldade de encontrar informação tão básica e desisti.

Pior que isso, os analistas estão esculhambando o percurso, pois os organizadores conseguiram “errar” o mapa do próprio país e deixar os Alpes de fora. Aliás, cá entre nós, acho que na luta do ciclismo contra o doping a UCI e os organizadores de corridas resolveram facilitar nas subidas, na esperança que o pelotão reduza o consumo de “aditivos”.

O Giro 2012 foi chamado de “mais humano” pelo próprio diretor da prova. O Dauphiné, que está sendo disputado esta semana, tem apenas uma etapa dígna da tradição da prova. E este Tour de Suisse apararentemente não tem nenhuma.

Abaixo o mapa da prova. Atentem para as setas em azul, que foram colocados por um blogueiro gozador, indicando onde ficam os Alpes. Isto foi para dizer/gozar que o pelotão passará longe deles!

Bom, se considerarmos que o Tour de France deste ano também foi feito para contra-relogistas, talvez todos os organizadores resolveram se alinhar e detonar os escaladores. Talvez o Cavendish devesse vir correr aqui…

Um pelotão apenas regular

Conforme disse no último post, a maioria do candidatos à vitória ou Top 10 do Tour de France optaram correr o Dauphiné. Na Suiça correrão o Levi Leipheimer (Omega Pharma Quick Step, está mais para Top 20), o Tom Danielson  (Garmin – mas se o Hejesdal correr, o americano será gregario), Igor Anton (Eukaltel…será que o seu nível de 2010 se repetirá?), Alejandro Valverde (Movistar – esse vem com tudo, está com sede de vitória e de vingança…mas até agora não mostrou a forma pré-suspensão), Nicolas Roche (AG2R – o filho do lendário Stephen Roche é um talento emergente – já tem 27 anos e não explodiu, mas é candidato ao Top 10 aqui e na França), Robert Gessink (Rabobank – a eterna esperança holandesa finalmente venceu algo de prestígio: o Tour of California. O batavo deve estar com o moral em alta e lutará pelo pódium aqui e no Tour de France).

E por falar em Holanda, eu estarei observando o jovem Bauke Mollema. Ele será, em tese, gregario, de Gessink mas é um talento pronto para fazer seus próprios voos. O 4o lugar na Vuelta e o 50 no Tour de Suisse ano passado, mais o 6o em Liège e o 3o na Vuelta al Pais Vasco este ano mostram que ele tem potencial para Top 10 do Tour de France.

Nos sprints teremos Oscar Freire (sua meta é o Ouro em Londres…todo o resto será mero treinamento), Tom Boonen (o melhor ciclista de 2012 até agora também quer o Ouro Olímpico), Alessando Pettachi (Lampre…ainda existe o campeão de La Spezia??? Ok, ele venceu 3 etapas no recene Bayern Rundfahrt), José Joaquim Rojas (Movistar – este veloz Murciano de 26 anos tem futuro…e é irmão do finado Mariano Rojas, que morreu atropelado em 1996, aos 22 anos de idade, quando corria para a ONCE e era a grande esperança nacional para substituir um recén-aposentado Miguel Indurain – triste).

Grandes vencedores do Tour de Suisse

Diferentemente do Dauphiné, o Tour de Suisse tem como tradição atrair equipes e campeões do Giro d’Italia. O maior vencedor da história da prova é o escalador italiano Pasquale Fornara, com 4 vitórias conquistadas entre 1952-58.

Curiosamente, este piemontês de Novara teve pouco destaque na sua terra natal: fez um terceiro no Giro 1953 (mais G.P. da Montanha), vencido por Coppi, e nada mais. Também fez um 2o na Vuelta a España.

Mas foi no país dos Cantões que don Pasquale fez seu nome: além das 4 vitórias no Tour, ele também venceu um Tour de Romandie (1956). Devia ter pedido (e recebido) cidadania suiça após tanto amor e sucesso nas estradas deste país.

Foto: Fornara era tão popular na Suiça que corria pela equipe Cilo (banco de médio porte).

As vitórias deste obscuro italiano tem valor especial, porque ele correu na Época de Ouro do ciclismo suiço. Nos anos 50 a pequena Suiça revelou para o mundo a “dupla KK”, Ferdinand Kubler e Hugo Koblet, que venceu muitas corridas do mais alto prestígio. Mas ambos venceram o seu Tour nacional “apenas” 3 vezes cada um.

Foto: (da esq. para dir.) Kuber, “Papagaio de Pirata” e Koblet
 

Já vencer na Suiça está longe de significa vitória no Tour – o Dauphiné já tem esta característica mais marcante. Olhando a lista de vencedores recentes, saltam aos olhos apenas Lance Armstrong, Jan Ullrich…e Eddy Merckx (em 1974, quando também venceu o Giro, o Tour e o Mundial… indecente!).

No entanto, o número de vencedores ou protagonistas do Tour de Suisse e do Giro abunda: os italianos craques dos anos 60 Bitossi, Motta e Adorni; os ‘setentistas’ Giuseppe Saronni e Mario Beccia (este baixinho careca escalava muito e venceu uma Flèche Wallone em 1981); os mais recentes Stefano Garzzelli e Francesco Casagrande; o americano Andy Hampsteen (duas vezes campeão aqui e que venceu o épico Giro de 1988) e o russo Pavel Tonkov (Maglia Rosa em 96).

Foto: um chocolate suiço de 1a linha para quem souber quem é este heroi! Sim, é o bicampeão do Tour de Suisse, o americano Andy Hampsteen, no Passo Gavia do Giro 1988.

Os melhores suiços – além dos acima citados – também marcaram presença no seu Tour nacional: Urs Zimmerman (3o do Tour 1985, quando foi lutou bravamente contra a dupla da Vie Claire Hinault e Lemond), Beat Breu (escalador alado que andou forte no Tour de France 1982 – ficou em 6o, ganhou duas etapas, incluindo a mítica L’Alpe d’Huez), Pascal Richard (Campeão Olímpico em Atlanta, Giro di Lombardia e muito mais), Oskar Camenzid (Campeão do Mundo e Giro di Lombardia em 1998…e muito doping no final de carreira).

Foto: O campeão suiço Urs Zimmerman persegue Bernard Hinault, no Tour 85, com Lemond na sua roda – cena comum naquele ano.
 

E esse aqui, conhece?

Foto: o peso-pluma Beat Breu (equipe Cilo – bicicletas Aufina) vence em L’Alpe d’Huez – potencial vencedor do Tour, não chegou nem perto.

E ao pesquisar sobre a prova, notei que tem um número grande demais de ciclistas de segunda linha que já venceram esta prova tão tradicional. Nomes que eu nem lembrava que existiam. Alguém conhece Helmut Wechselberger ou o Christophe Agnolutto? Ciclistas obscuros demais.

Acho também que vale destacar que, às vezes, ciclistas não montanheiros vencem por aqui. Ah, esses suiços que ficam “economizando” chegadas no topo do Alpes…três bons exemplos:

  • Phil Anderson – o homem que desafiou Hinault no Tour 81 – também venceu por aqui, mesmo não tendo perfil para tal. Esta fera foi o grande inspirador para a geração de Cadel Evans e tantos outros Aussies (é assim que os australianos se chamam) que vem vencendo há tempos.
  • Le Gitan de Eeklo Roger de Vlaeminck venceu aqui 1975, quando era corredor de Clássicas por excelência e nunca esteve perto de pódium de Grand Tour.
  • Sean Kelly, outro gigante da Clássicas belgas, também venceu nos Alpes “light” suiços e duas vezes!
Foto: Anderson (dir.) e Kelly (esq.) duelando na Liège-Bastogne-Liège, nos anos 80. Deu Kelly, como de hábito. Estes não escaladores venceram o Tour de Suisse contra todas as previsões.

A Suiça – esse é um país LINDO, ORGANIZADO, RICO e que se especializou em coisas maravilhosas (para o meu gosto): chocolate, queijo e relógios. Ah, sim, são bons também na gestão de fortunas (muitas vezes de origem duvidosa…) e é sede de alguns dos bancos mais famosos do mundo.

Foto: ATENÇÃO! O Dia dos Namorados está chegando e se você quer agradar a sua cara-metade de a ela este Lindor. Sua receita foi feita pelos deuses dos prazeres grastonômicos…passo mal só de olhar a foto, de tão gostoso que é!

E os queijos então…

Foto: Emmenthal, Gruyère, Raclette…estou salivando…
 

E para quem gosta e pode pagar muito caro…

Foto: quer agradar a sua Princesa? Saque uns R$ 50 mil da sua conta corrente e compre um Patek Phillipe deste, mas ela ficará feliz também com um bom Rolex…é tiro certo! Para nós, meninos, tem Omega, Tag Heuer, Breitling e…a lista é longa!

Enfim, não espero muito desta prova, mas os favoritos a Top 10 do Tour de France medirão forças e irão lutar pela vitória final. Espero…

Au revoir,

Fernando

About Fernando Blanco

Apaixonado por ciclismo há mais de 30 anos, começou a pedalar em 1977 em Santos, tendo corrido para valer até os 20 anos de idade, quando coisas 'banais' como faculdade, carreira executiva, casamentos e filhos atrapalharam um pouco...agora, como Senior B, está treinando forte e pretende compensar o tempo perdido. Como ciclista foi um bom sprinter, chegando à pré-convocação da Seleção Brasileiros de Juniores em 1979. Se a carreira como ciclista não foi grande coisa, a coleção de revistas locais e internacionais (mais de 1.000) e de videos/DVDs (mais de 100) proveram bastante cultura sobre o ciclismo profissional. Provas internacionais acompanhadas ao vivo: Mundial de Estrada ('07), Mundial de Pista ('89), Tour de France ('97 e '02), Liège-Bastogne-Liège e Flèche Wallone (ambas em '92), Paris-Nice ('97), Ronde van Belgie (´89).
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8 Responses to Tour de Suisse, a última chance de “afinar” as pernas para o Tour de France

  1. Thiago says:

    Ola Fernando, belo post, bastante até divagador. hehe

    Esqueceu de comentar do Peter Sagan.

    • Obrigado, Thiago, mas divagar é a minha marca…hahahaha…não falei do Sagan…acho que apesar dele ser o futuro (rápido) do ciclismo eu ainda estou esperando ele ganhar uma das grandes…mas deu show na California!! Abs!

      • Thiago says:

        E esta dando show de volta agora, 4 vitórias em 6 etapas, com direito a vencer um ITT em cima do Cancellara. Um fenômeno.

      • Impressionante! Eu comprei uma revista inglesa que traz uma grande entrevista com ele. Vou traduzir, apimentar e publicar aqui. Aguarde! Abs!

  2. Edson Sobreira says:

    O Fernando se eu não me engano o Christophe Agnoluto já ganhou etapa do Tour de France, escapado, acho que foi em 2000

    • Oi Edson, é o Agnolutto corria para equipe dopada Casino (empresa que é sócia do Pão de Açucar aqui no Brasil e tomar o controle do Abilio Diniz…barraco no capitalismo franco-brasileiro) e realmente venceu esta etapa. Mas o cara nunca teve pedigree para ganhar um Tour de Suisse. Abs!

  3. Viva Fernando,

    Depois que o Rui Costa (meu compatriota) ter aumentado ontem a vantagem no CR será que vamos ver um português ganhar uma etapa do Pro Tour?
    Fui ver ao Steephill (http://www.steephill.tv/tour-de-suisse/ ) o perfil das etapas restantes e afinal o melhor ficou mesmo para o fim! Dureza!
    Parabéns pelo site!

    Abraço de Portugal
    Mark

    • Que beleza, Mark! Torço muito para que Portugal recupere o prestígio de outrora.
      Comecei no ciclismo no final dos anos 70, quando o lendário Joaquim Agostinho atingiu o seu auge (apesar de já ser um veterano). Ser 3o do Tour de France em 78 e 79 deve ter sido uma grande emoção para os patrícios.
      E aqui no Brasil eu vi as feras Marco Chagas e Manoel Zeferino destroçarem a elite local. Também escrevi um post aqui, por conta de um jovem promissor chamado Lima Fernandes, que deu um show na minha terra, Santos, em 1977.
      Obrigado por prestigiar este blog. E força Rui Costa! Um forte abraço!

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